“Quando começo um poema nunca sei para onde estou a ser conduzido. Há muitas formas de encontrar linha de desenvolvimento, umas vezes lógica, outras mais contraditória ou paradoxal, mas o que é comum é o modo como o poema se fecha a si próprio, quase sempre de uma forma inesperada que surpreende através de várias formas, desde a ironia até esse encontro como o que posso chamar uma transcendência que obriga a ler o poema e a reinterpretá-lo. O que importa é a surpresa no final, que subverte ou transforma o que vinha antes.” (Nuno Júdice, citado por Guilherme d’Oliveira Martins, in JL 03-04-2024, p. 11)
Os sonhos em vigília não são totalmente distintos dos sonhos nocturnos. Podemos perguntar: donde vêm os sonhos? Estou convencido de que a sua origem está fora do corpo (ver o post 2024-13).
Recentemente, descobriu-se que até os bebés no útero têm sono REM e sonham, mas não se sabe com o quê (Wikipédia: Sonho).
“Não há poesia sem imagem, tal como não há poesia sem ideia (embora no meu caso a filosofia seja algo mais interrogativo do que explicativo).” (Nuno Júdice, Ibidem)
Estou convencido de que a poesia é a imagem e a ideia trabalhadas pela emoção.
No artigo referido, Guilherme d’Oliveira Martins transcreveu o seguinte poema de Nuno Júdice.
“Saída à noite”
Mais vale ver o que não vejo
para dizer o que não disse.
Ouço apenas o som do realejo
tocado sem que eu o pedisse.
Podia ser uma música bem triste,
dessas que nos fazem chorar;
a não ser que, de tudo o que viste,
não haja nada de mau para lembrar.
E são coisas como estas que levamos
quando, à noite, vamos para a rua,
sem nunca saber o que encontramos.
Pode ser uma porta aberta, uma mulher nua,
um lugar em que ninguém se esconde,
e o que resta é perguntar quando, e onde.
(Nuno Júdice, 3 de outubro de 2023)
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