No mundo há duas coisas realmente espantosas: a genialidade e a loucura racional (ou Razão louca, ou Razão sem compaixão nem ética). E elas espantam-nos por serem incompreensíveis, uma vez que são manifestações do Espírito Universal incognoscível. A literatura é a expressão deste espanto.
“Louco não é o homem que perdeu a Razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a Razão.” (G. K. Chesterton)
Os loucos racionais podem ser muito perigosos, não por acreditarem em coisas absurdas mas por serem capazes de converter muitos outros às suas ideias. Devido a esta capacidade, o progresso da ciência, que deveria aumentar continuamente o bem-estar da Humanidade, irá provavelmente conduzir à extinção da espécie. Pelo prazer de confrontação e competição que os caracteriza, os loucos racionais são a principal causa de sofrimento.
A mente humana é pouco fidedigna. Para um ser verdadeiramente inteligente, a inteligência humana seria extremamente débil.
“Se acreditamos com tanta ingenuidade nas ideias é porque esquecemos que foram concebidas por mamíferos.” (Cioran, in Silogismos da Amargura)
Os homens são primatas deslumbrados com as suas débeis capacidades. Isto justifica o estado decadente da Humanidade e do planeta que a gerou.
Numa análise do livro “When We Cease to Understand the World”, de Benjamin Labatut (disponível em www.goodreads.com/review/show/3684136053), pode ler-se o seguinte:
“The existentialist philosophers were right: human life is absurd. Hegel was right: the world is built on contradictions. Jesus was at least partially right: the first are often last, and vice-versa. The Buddha was probably right: the world is illusory; good becomes indistinguishable from evil […] Socrates believed that no one willingly commits acts of evil. Hegel thought that even the worst acts have good reasons. Another way of expressing the same sentiment is that human beings are capable of rationalising any behaviour, thought, or desire as beneficial to the world at large. If there is any human trait that can be considered as downright sinful it is this ability. Yet we continue to confer […] high political office to people of the caliber of Donald Trump, clearly hoping that all the accumulated wisdom of our culture is wrong.”
”Nada é indefensável, desde a proposição mais absurda ao crime mais monstruoso.” (Emil Cioran) Os loucos racionais, por não terem compaixão nem ética, são capazes de justificar qualquer monstruosidade, e por isso tudo se pode esperar deles. Putin é um exemplo típico destes loucos.
“Ninguém faz o mal voluntariamente.” (Sócrates) Apesar de Sócrates provavelmente acreditar no livre-arbítrio, este pensamento está correcto (ver o post 2024-7).
O Universo é um local em permanente convulsão: vulcões, furacões, terramotos, tsunamis, etc. A realidade humana confirma toda esta violência: convulsões sociais, guerras, fome, repressão, tráfico de seres humanos, etc. Vivemos cada vez mais no meio do caos. É difícil aceitar que este caos satisfaça algum plano inteligente. Nenhuma inteligência superior teria instalado uma civilização num lugar onde, a qualquer momento, o chão pode engolir tudo.
Neste mundo, o sublime coexiste com o horrível, mas este é mais abundante. Temos de reconhecer que a vida humana é absurda, porque não é possível extirpar a violência da mente humana.
À medida que nos humanizamos vamos ficando menos capazes de viver humanamente. Quantos sábios já viram a varrer ruas?
Quanto melhor conhecemos o mundo, mais convencidos ficamos de que ele é absurdo.
“Objecção contra a ciência: este mundo não vale a pena ser conhecido.” (Emil Cioran)
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