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Tempo e consciência, 2024-25

A leitura do capítulo “Irá o tempo alguma vez acabar?” do excelente livro “Perguntas frequentes sobre o Universo” (p. 165), de Jorge Cham & Daniel Whiteson, sugeriu-me a reflexão seguinte.

Para o homem, o tempo só existirá enquanto ele puder detectar no Universo mudanças com significado, porque sem mudança não há tempo. Mas como o homem notará sempre mudanças em si próprio, o tempo só poderá deixar de existir após a extinção do homem. Mas uma coisa só existe se alguma consciência puder constatar a sua existência. E essa coisa será o que a consciência disser dela.

“A thing in itself which is not a thing to some consciousness is na entirely unrealizable, because contradictory, conception.” (J. H. Muirhead, citado por Henry Margenau, in “The Miracle of Existence”, p. 1)

Acredito que no discurso de qualquer partido político existe sempre alguma verdade. Mas as diferenças de pontos de vista não permitem determinar essa verdade.

Só podemos falar do que o homem vê no mundo e não daquilo que o mundo é realmente. Deste modo, quando falamos do mundo estamos de facto a falar do homem. As inúmeras visões do mundo resultam da grande diversidade de sensibilidades, das quais algumas são absolutamente monstruosas. Para alguns a democracia é a melhor forma de governo, mas para outros não. Não creio que estes possam ser convencidos por aqueles por uma via racional.

“Though we see the same world, we see it through different eyes.” (Viginia Woolf)

“A beleza está nos olhos de quem vê.” (Ramón de Campoamor y Campoosorio)

Não concordo. A beleza está no Espírito Universal, que dá a alguns olhos e mente capazes de a admirar. E o Espírito pode usar a influência de outras pessoas para nos levar a admirar uma coisa.

A beleza é o reflexo do Espírito nas coisas. Sem o Espírito, o Universo seria apenas um monte de pedras.

“Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido.” (Hermann Hesse) O mundo de cada pessoa reflecte a sua experiência de vida.

“Não vemos o mundo como ele é, vemo-lo como somos.” (Anaïs Nin)

“O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.” (Protágoras)

“O Universo é feito de histórias, não de átomos.” (Muriel Rukeyser, no poema “The speed of darkness”)

Na verdade, o mundo de qualquer pessoa é o conjunto de narrativas que ela tem na sua mente.

“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.” (Wittgenstein) Isto é, o que não pode ser comunicado através de alguma linguagem tem um grau muito reduzido de realidade.

“Locked in the silence and darkness of your skull, your brain fashions the rich narratives of your reality and your identity.” (David Eagleman, in “The Brain: The Story of You”)

 

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