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A universalidade das crenças, 2025-15

O mundo é complexo demais para que o homem possa compreender completamente o seu significado. Por isso têm existido muitas culturas, cada uma delas com a sua visão do mundo. Qualquer visão do mundo é baseada em postulados (indemonstráveis) a que se dá o nome de mitos. Um mito é uma narrativa metafórica que ajuda cada ser humano a entender a sua posição no mundo e a encontrar um significado para a sua vida.

Exemplos: o mito da caverna (de Platão), os mitos da criação do mundo e o mito do Deus Pai.

Os mitos e os rituais são componentes essenciais de qualquer religião. Uma vez que os mitos são crenças sem justificação racional, nenhuma religião pode ser aceite por todos os seres humanos. A visão do mundo de uma pessoa depende da natureza da sua mente e todas as visões do mundo são igualmente boas desde que permitam a um homem respeitar as dignidades de todos os outros.

Devido à enorme variabilidade da mente humana, a universalidade de uma crença é sempre limitada. Mas como diz o filósofo John Gray: “No final de contas, o que importa não é aquilo em que acreditamos. O que importa é a forma como vivemos” (vide post 2024-58). Penso que John Gray está aqui a pensar nas crenças religiosas. Mas é claro que a maneira como uma pessoa vive depende do conjunto das suas crenças. Estas crenças é que definem a pessoa.

A beleza que damos à vida depende das nossas crenças. Se dois conjuntos de crenças permitirem a mesma harmonia entre os seres humanos, eles são equivalentes.

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