Segundo o filósofo Emanuele Severino, a única verdade possível é o devir de tudo, no qual é difícil encontrar coerência. Além disso, Severino afirma que nada pode ser criado a partir do nada e que tudo é eterno. Para ele, tudo é eterno porque existe necessariamente. Este ponto de vista é incompatível com a ideia de criação ex nihilo.
“A afirmação ‘tudo é eterno’ significa que cada momento da realidade existe para todo o sempre, ou seja, não se pode apagá-lo para o lançar no nada. Cada acto nosso é eterno, assim como tudo o que percepcionamos em cada dia e em cada momento. O devir do mundo é o processo em que as estrelas eternas do ser entram e saem do círculo da totalidade do que percepcionamos.” (Tradução livre de parte do artigo “The philosophy of the eternals”, de Damiano Fina, disponível na Internet)
No estudo de Diego Fusaro sobre o pensamento de Emanuele Severino (Diego Fusaro, in https://www.filosofico.net/severino.htm) pode ler-se:
“Cada sentimento e pensamento nosso, cada forma e nuance do mundo, cada gesto do homem, são eternos. E também tudo o que aparece todos os dias e em cada instante: o primeiro fogo aceso pelo homem, o choro de Jesus no seu nascimento, as oscilações da lâmpada em frente de Galileu, Hiroshima viva e o seu cadáver. Eternos são toda a esperança e cada instante do mundo, com todo o conteúdo do instante, eterno é a consciência que vê as coisas com a sua eternidade e vê a loucura da convicção de que as coisas vêm do nada e voltam para ele.”
Nestas condições, a morte é apenas uma das várias ilusões da mente humana. Não devemos esquecer que a mente não foi desenvolvida para compreender o mundo mas para cuidar da sobrevivência da espécie (Lisa Feldman Barrett, in “7 lições e meia sobre o cérebro”, ed. Temas e Debates, 2022, p. 20).
Como Fernando Pessoa escreveu: “A morte é a curva da estrada, /Morrer é só não ser visto.”
No artigo “Saudações a Emanuele Severino: os eternos e a vontade de poder” (in blog Axis Mundi, de Robert Cecchetti) pode ler-se:
“A festa e tudo o que dela deriva – mito, poesia, filosofia, técnica, ciência – são as diferentes formas do remédio inventado pelo mortal para suportar a dor e a morte.” (Emanuele Severino)
O pensamento de Severino sobre a eternidade de todas as coisas é compatível com a Teoria do Universo em Bloco (vide post 2024-15) e com a realidade dos mundos possíveis defendida pelo filósofo David K. Lewis (vide post 2024-68).
“The universe is made of stories, not of atoms.” (Muriel Rukeyser) Cada ser humano é uma história eterna, ainda que em dado momento deixe de ser percepcionável.
Se Deus é ilimitado, ele tem de incluir tudo o que existe. Deste modo tudo existe necessariamente e é portanto eterno.
A verdadeira crença em Deus determina uma necessidade permanente de partilhar as boas emoções. Algumas pessoas são crentes por natureza. “Muito do que foi chamado religião carrega uma atitude inconsciente de hostilidade em relação à vida. A verdadeira religião deve ensinar que a vida está cheia de alegrias agradáveis aos olhos de Deus, que o conhecimento sem acção é vazio. Todos os homens devem ver que o ensino da religião por regras e rotina é em grande parte uma farsa. O ensino adequado é reconhecido com facilidade. Pode conhecê-lo sem falhar porque desperta dentro de si aquela sensação que lhe diz que isto é algo que sempre soube.” (Frank Herbert) “Quando a religião e a política viajam na mesma carroça, os condutores acreditam que podem afastar tudo do caminho.” (Frank Herbert) Veja-se o regime teocrático do Irão. Actualmente vemos governantes cometer as piores atrocidades, e ao mesmo tempo a apelar à religiosidade do povo e a invocar Deus com frequência. Estes safados e hipócr...
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