Baruch Espinosa é famoso pela identificação de Deus com a Natureza. Na concepção de Espinosa, Deus é entendido como a totalidade da realidade. Segundo esta perspectiva, não existem ateus.
Sobre ele, Hegel diria: “O facto é que Espinosa se tornou um ponto de teste na filosofia moderna, de modo que realmente pode dizer-se: “ou você é um espinosista ou nem sequer é um filósofo”. Gilles Deleuze considerou-o “o ‘príncipe’ dos filósofos”.
A sua obra mais importante, “Ética demonstrada à maneira dos geómetras”, tem a estrutura de um tratado de geometria, com postulados, definições e demonstrações. Com esta ética racional, Espinosa esperava que qualquer homem pudesse comptreender e obedecer aos ditames da Razão.
“Tudo aquilo por que nos esforçamos pela Razão não é outra coisa senão conhecer; e a alma, na medida em que usa da Razão, não julga que nenhuma outra coisa lhe seja útil, senão aquela que conduz ao conhecimento.” (Espinosa, in “Ética”). Para Espinosa, conhecer é sempre conhecer Deus.
No artigo “A Defense of Incompatibilism: The Irreconcilability of Free Will and Determinism”, de Michael Hannon (disponível na Internet), é dito que Espinosa acreditava que o mundo é puramente determinista e que portanto o homem não possui livre-arbítrio. Segundo Hannon: “because we do not choose our desires we cannot assume that the resulting action is a product of our will”. Na verdade, sendo uma parcela do Todo a que Espinosa chamava Deus, como poderia o homem ser livre.
“Não há nada que saibamos, com certeza, ser bom ou mau, excepto aquilo que nos leva efectivamente a compreender ou que possa impedir que compreendamos.” (Espinosa, in Ética, Proposição 27)
À primeira vista, esta proposição parece fundamentar as ideias de bem e mal unicamente na Razão, ignorando a sensibilidade. Mas na verdade, ela levar-nos-á a reflectir sobre as causas do sofrimento e a reconhecer os males que resultam de quaisquer dogmatismos e autoritarismos.
“A Democracia é a melhor forma de governo, pois permite que todos governem sem que sejam governados.” (Espinosa)
Mas a democracia só é possível com homens livres.
“Prestar assistência a todos os pobres está muito para além do alcance e do poder de qualquer pessoa. Cuidar dos pobres é uma responsabilidade de toda a sociedade.” (Idem)
“É aos escravos, e não aos homens livres, que se dá um prémio para os recompensar por se terem comportado bem.” (Idem)
Para Espinosa, só é livre o homem que reconhece a necessidade de obedecer aos ditames da Razão.
“Fiz um esforço incessante para não ridicularizar, nem lamentar, nem desprezar as acções humanas; o que tenho feito é tratar de compreendê-las.” (Idem)
“A actividade mais elevada que um ser humano pode atingir é aprender para compreender, porque compreender é ser livre.” (Idem) A liberdade só é limitada pela ignorância.
“Se os homens nascessem livres, enquanto permanecessem livres, não formariam qualquer concepção do bem e do mal.” (Idem) Só distinguimos entre bem e mal porque não conhecemos a Verdade (que é o Bem).
“Chamo livre àquele que é guiado unicamente pela Razão.” (Idem)
“O pecado não pode ser concebido num estado natural, mas apenas num estado civil, onde é decretado por consentimento comum o que é bom ou mau.” (Idem)
“Uma mesma coisa pode ser boa, má e indiferente ao mesmo tempo; por exemplo, a música é boa para os melancólicos, má para os que choram e nem boa nem má para os surdos.” (Idem)
“Se quer que o presente seja diferente do passado, estude o passado.” (Idem) Sem um bom conhecimento do passado, estamos condenados a repetir os mesmos erros.
“Não chore, não se indigne. Entenda.” (Idem)
“O desejo é a própria essência do homem.” (Idem)
“Nada no Universo é contingente, mas todas as coisas estão condicionadas a existir e a operar de uma forma particular pela necessidade da sua natureza divina.” (Idem)
“Deus é a causa interior e não transitória de todas as coisas.” (Idem)
“Tudo o que é, está em Deus, e sem Deus nada pode ser ou ser concebido.” (Idem)
“O esforço para compreender é a primeira e única base da virtude.” (Idem)
“Gostaria de o advertir de que não atribuo à natureza beleza ou deformidade, ordem ou confusão. Só em relação à nossa imaginação é que as coisas podem ser chamadas de belas ou feias, bem ordenadas ou confusas.” (Idem)
“A ambição é o desejo imoderado de poder.” (Idem)
“Toda a felicidade ou infelicidade depende unicamente da qualidade do objecto a que estamos apegados pelo amor.” (Idem)
“Sentimos e sabemos que somos eternos.” (Idem) Emanuele Severino afirmou o mesmo vários séculos depois (vide post 2025-13).
“A verdadeira virtude é a vida sob a direcção da Razão.” (Idem)
“A alegria é a passagem de uma ideia menor para uma maior.” (Idem)
“O objectivo da ética espinosista consiste na organização da nossa vida graças à Razão, tendo em vista diminuir a tristeza e aumentar a alegria até à felicidade plena.” (Frédéric Lenoir, in “O Milagre Espinosa”)
“Tudo o que é contrário à natureza é contrário à Razão, e tudo o que é contrário à Razão é absurdo.” (Idem)
Não sei o que Espinosa pensava da desordem devida ao acaso (como a loucura). Espinosa defendia que qualquer homem deve obedecer aos ditames da Razão. Mas a loucura, que é o absurdo no homem, impede-o de ter um comportamento inteiramente racional. Ao contrário do que Espinosa pensava, o Universo não é puramente determinista mas sim um sistema caótico com ruído.
Pensar que o mundo é racional parece-me uma ingenuidade. Se fosse racional, ele seria previsível, o que obviamente não é.
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