No post 2023-36 escrevi que a matéria é a tela sobre a qual pintamos o quadro das nossas vidas. Pretendi assim afirmar que os seres humanos vivem num mundo mental constituído pelos significados e funções que atribuem aos objectos materiais.
Este facto é claramente explicado no Capítulo 7 do livro “7 lições e meia sobre o cérebro”, de Lisa Feldman Barrett (já referido no post 2025-13), do qual extraí as seguintes afirmações.
“A maior parte da nossa vida tem lugar num mundo inventado. […] Participamos activa e voluntariamente neste mundo inventado todos os dias. Para nós, é real. É tão real como o nosso próprio nome, o qual, já agora, também foi inventado por pessoas. Vivemos num mundo de realidade social que apenas existe dentro dos nossos cérebros humanos. […] A Terra, em si, com as suas pedras, árvores, desertos e oceanos, é a realidade física. A realidade social significa que impomos novas funções a coisas físicas, colectivamente. Concordamos, por exemplo, que um determinado pedaço da Terra é um «país» e concordamos que um ser humano em particular é o seu «líder», como um presidente ou uma rainha. […] O mundo da realidade social é também extremamente sério. No Médio Oriente, as pessoas discordam e matam-se umas às outras por causa de uma parcela de terra ser Israel ou Palestina. Mesmo que não discutamos explicitamente o facto da realidade social, as nossas acções tornam-na real. […] Uma coisa verdadeiramente espantosa acerca da realidade social é que raramente percebemos que a fabricámos. O cérebro humano não se compreende a si próprio e toma a realidade social como realidade física, o que causa toda a espécie de problemas. […] A realidade social pode ser uma das nossas maiores realizações, mas é também uma arma que podemos empunhar uns contra os outros. É vulnerável à manipulação. A própria democracia é uma realidade social.”
É muito importante realçar o seguinte ponto: tratar a realidade social como uma parte objectivável da realidade física é um grave erro. A expressão “Terra Prometida” não está escrita nas fronteiras do Estado de Israel, como alguns fanáticos supõem.
A mente humana, além de muito inventiva, é muito deficiente. Até consegue tratar a liberdade como uma mercadoria. A sociedade criada pelos homens é em larga medida indecente e absurda porque a natureza do cérebro humano e as leis que o regulam não permitem melhor.
Destaco também o último parágrafo do Epílogo do livro referido acima:
“O nosso tipo de cérebro não é o maior do reino animal e não é o melhor em qualquer sentido objectivo. Mas é nosso. É a fonte das nossas forças e das nossas fraquezas. Dá-nos a nossa capacidade para construir civilizações e a nossa capacidade para nos destruirmos uns aos outros. Torna-nos simples, imperfeita e gloriosamente humanos.”
“Não criamos um mundo de fantasia para escapar à realidade. Criamo-lo para conseguirmos permanecer nela.” (Lynda Barry, citada naquele livro, p. 140)
A vida humana é um combate entre narrativas, das quais algumas duram muitas gerações. Estas narrativas desenvolvem-se nas mentes humanas por efeito de leis que as tornam largamente independentes da vontade dos seres humanos. Os valores que a mente atribui às acções humanas têm origem na Consciência Cósmica, mas os comportamentos dependem da estrutura material do cérebro, que em larga medida é aleatória. Um cérebro pode ter uma estrutura de santo ou de psicopata.
A complexidade do mundo vai certamente ultrapassar a capacidade do homem para pôr ordem no caos. Os seres humanos evoluem muito lentamente mas a tecnologia tem um desenvolvimento cada vez mais acelerado. Deste modo, a tecnologia acabará por destruir a Humanidade, porque os aspectos nefastos da tecnologia serão sempre os mais procurados.
“A vida das nações, não menos do que a dos homens, é vivida em grande parte na imaginação.” (Enoch Powell)
A História mostra que a vida das nações é em grande medida o resultado da vaidade e do desejo de poder dos governantes e por isso não pode atingir a harmonia que a maioria deseja. Por isso, a História dá-nos um espectáculo absurdo que só pode envergonhar qualquer ser humano lúcido.
Acreditar que os homens inventam as suas crenças é ser niilista?
A verdadeira crença em Deus determina uma necessidade permanente de partilhar as boas emoções. Algumas pessoas são crentes por natureza. “Muito do que foi chamado religião carrega uma atitude inconsciente de hostilidade em relação à vida. A verdadeira religião deve ensinar que a vida está cheia de alegrias agradáveis aos olhos de Deus, que o conhecimento sem acção é vazio. Todos os homens devem ver que o ensino da religião por regras e rotina é em grande parte uma farsa. O ensino adequado é reconhecido com facilidade. Pode conhecê-lo sem falhar porque desperta dentro de si aquela sensação que lhe diz que isto é algo que sempre soube.” (Frank Herbert) “Quando a religião e a política viajam na mesma carroça, os condutores acreditam que podem afastar tudo do caminho.” (Frank Herbert) Veja-se o regime teocrático do Irão. Actualmente vemos governantes cometer as piores atrocidades, e ao mesmo tempo a apelar à religiosidade do povo e a invocar Deus com frequência. Estes safados e hipócr...
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