Apesar de visarem apenas a luta pela sobrevivência da espécie, as capacidades cognitivas têm permitido ao homem desvendar alguns enigmas do Universo, mas não vão permitir um conhecimento exaustivo do mesmo. Pelo menos não vai ser possível conhecer completamente o sistema cognitivo do homem (vide post 2025-34).
Além disso, os conflitos permanentes estão aí para provar que os homens nem sequer conseguem entender-se uns aos outros, nem compreender-se a si mesmos. E muitos desejariam ser diferentes do que são. Os defeitos intelectuais e afectivos do homem nunca permitirão que as sociedades humanas evoluam para um estado de convivência harmoniosa e fraterna, apesar de este estado ser obviamente vantajoso para todos. O homem é claramente um ser mal construído, porque foi atingido por processos com uma forte componente aleatória.
As guerras existem porque há homens capazes de matar sem ser atacados. As religiões que não conseguem impedir os seus crentes de cometer estes crimes são uma farsa. No entanto elas continuam a opor-se ferozmente ao casamento homoafectivo.
Existem muitas pessoas admiráveis mas não existe, nem nunca existirá, um número de homens dignos suficiente para impedir que as guerras ocorram.
Perguntar qual é a razão de ser do homem tem o mesmo sentido que perguntar qual é a razão de ser de qualquer outro animal ou a do Universo como um todo. A razão de ser do que existe é simplesmente existir, permitindo que o sublime e o horrível aconteçam inesperadamente em qualquer instante e lugar. A finalidade do mundo não é o bem nem o mal, que são apenas avaliações de agentes conscientes. O bem é simplesmente aquilo que favorece a Humanidade e o mal é aquilo que a prejudica.
Algumas coisas são melhores do que outras mas não me parece possível avaliar o grau de perfeição de uma coisa. No entanto, temos de reconhecer, com Iris Murdoch, que “há pouco que seja muito bom e nada que seja perfeito” (in “A Soberania do Bem”, 2024, p. 88). Iris Murdoch afirma que o Bem e o Belo são reais, no sentido de que existem fora da mente humana (creio que na Consciência Universal) e devem ser procurados e contemplados pelos seres humanos. No mesmo sentido, o mal e o feio também são reais. O Bem e o Belo podem ser experienciados mas, segundo Murdoch, não podem ser definidos, porque não é possível definir uma emoção.
“We are constantly in process of recognizing the falseness of our ‘goods’, and the
unimportance of what we deem important. Great art teaches a sense of reality, so does ordinary living and loving. We find out in the most minute details of our lives that the good is real.” (Iris Murdoch, in “Metaphysics as a Guide to Morals”)
A realidade humana actual é tão absurda e abjecta que só uma inteligência limitada poderia ter desejado criá-la tal como é. Acredito que o mundo não foi criado e que é o resultado de um processo orientado por leis que actuam automaticamente. Não é possível encontrar uma razão lógica para a existência da Humanidade nas condições em que ela é forçada a existir.
A ciência é eficaz a identificar as formas e as causas do mal mas é menos eficaz a obter maneiras de o combater. Basta pensar nos incêndios florestais e nos inconvenientes das redes sociais.
Steven Weinberg afirmou: “Quanto mais compreensível o Universo parece, mais ele parece também não ter sentido.” Parafraseando Weinberg podemos dizer: Quanto mais conhecemos o homem e o Universo, mais convencidos ficamos de que aquele é um ser inconsequente que vive num mundo ininteligível e sem propósito. Há quem pense que o amor pode salvar o homem, mas a verdade é que o amor vai acabar afogado no caos da realidade humana.
O mundo de qualquer pessoa é simplesmente a sua sensibilidade, que frequentemmente é irracional e aberrante. As sensibilidades humanas originam uma realidade globalmente abjecta que torna indefensável a existência do homem. A enorme diversidade das sensibilidades torna impossível a construção de um mundo racional.
Donald Hoffman afirma que o mundo é constituído por todos os agentes conscientes e admite que, através destes seres, a Consciência Universal procura conhecer-se a si mesma a partir de uma infinidade de pontos de vista (vide post 2025-34).
As universidades representam a inteligência humana, mas não parecem muito preocupadas com o estado miserável em que a Humanidade se encontra. Na verdade não há razão para estarem preocupadas com isso, porque a história da Humanidade é globbalmente independente das vontades dos seres humanos. Segundo Rupert Sheldrake, a Humanidade é um organismo governado por um campo mórfico, cuja maneira de actuar desconhecemos. Alguns aspectos dessa história parecem-me absurdos demais para resultarem de uma imaginação livre.
Se os seres conscientes estão na Consciência Universal, é possível que a realidade humana seja determinada pelas leis que regulam a evolução dessa Consciência. Creio que estamos a assistir a uma história absurda resultante destas leis.
Para muitos, a espécie humana é mais importante do que o buraco negro que existe no centro da nossa galáxia, mas não creio que esta avaliação esteja correcta. Apesar das graves imperfeições do homem, a sua existência é, para alguns, um milagre. Mas na Realidade Total talvez existam muitos outros milagres ainda mais assombrosos do que o homem. É possível que tenha havido muitos mais Big Bangs e que cada um tenha dado origem a um universo diferente.
É possível que, do ponto de vista da Consciência Universal, os homens já tenham mostrado tudo o que podiam mostrar. Agora podem desaparecer. Não há nenhuma razão para continuarem a contar a história absurda que têm contado até agora. De qualquer modo, a Terra terá um fim e não será possível, nem importante, levar esta civilização absurda para outro lugar. Têm existido pessoas admiráveis, mas o estado a que chegámos mostra que a maior parte dos seres humanos é formada por imbecis que aceitam viver uma vida absurda. Está provado que a Humanidade não tem capacidade para fazer melhor.
Se a vida humana tivesse alguma importância seríamos certamente mais inteligentes e sensíveis. A vida apareceu por acidente e tem uma existência efémera. Além disso, as vítimas das guerras actuais e passadas provam claramente que a maioria das pessoas não acredita verdadeiramente no valor da vida humana.
O mundo é banal porque a mais complexa das suas realizações, o homem, tem uma qualidade muito má, e nada indica que venha a tornar-se significativamente melhor. Esta banalidade impede que tomemos o mundo a sério.
Um país que elege um doente mental como Trump não pode certamente melhorar.
“Se a nossa maravilhosa bondade é uma prova de Deus, será a nossa capacidade para os grandes males uma prova do Diabo?” (Paul Bloom)
Segundo a doutrina da Igreja, Deus deu aos seres humanos a liberdade de escolher o bem ou o mal. Mas a tendência do homem para praticar actos irracionais não é um sinal de liberdade mas de estupidez. Não existe um pecado original mas sim uma imperfeição original da sensibilidade que explica todos os actos estúpidos.
“Things are going to get unimaginably worse, and they are never, ever, going to get better again.” (Kurt Vonnegut)
A verdadeira crença em Deus determina uma necessidade permanente de partilhar as boas emoções. Algumas pessoas são crentes por natureza. “Muito do que foi chamado religião carrega uma atitude inconsciente de hostilidade em relação à vida. A verdadeira religião deve ensinar que a vida está cheia de alegrias agradáveis aos olhos de Deus, que o conhecimento sem acção é vazio. Todos os homens devem ver que o ensino da religião por regras e rotina é em grande parte uma farsa. O ensino adequado é reconhecido com facilidade. Pode conhecê-lo sem falhar porque desperta dentro de si aquela sensação que lhe diz que isto é algo que sempre soube.” (Frank Herbert) “Quando a religião e a política viajam na mesma carroça, os condutores acreditam que podem afastar tudo do caminho.” (Frank Herbert) Veja-se o regime teocrático do Irão. Actualmente vemos governantes cometer as piores atrocidades, e ao mesmo tempo a apelar à religiosidade do povo e a invocar Deus com frequência. Estes safados e hipócr...
Comentários
Enviar um comentário