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Inevitável e imprevisível, 2025-38

Segundo Bernardo Kastrup, todos os seres vivos são segmentos dissociados da Consciência Universal, na qual todos os acontecimentos são pensamentos (vide 2025-36). Assim podemos considerar a Consciência Universal como um grande ser vivo que inclui todos os outros seres vivos.
Segundo Kastrup, a Consciência Universal é a Causa Primeira, ou causa incausada.
Só a Consciência Universal é verdadeiramente livre. Nenhuma consciência dissociada poderia ter escolhido de maneira diferente da que escolheu, e o que aconteceu num dado lugar e instante não poderia ter acontecido diferentemente. Cada consciência dissociada limita-se a assistir ao espectáculo inevitável, imprevisível e sem plano que a Consciência Universal lhe oferece.
No blog “A Vida Intelectual” de Edward Wolff, no post intitulado “Introdução ao Idealismo Analítico”, pode ler-se:
“O facto de nós homens sermos dotados de metacognição, ou seja, o fato de nós sermos capazes de pensar sobre o pensamento, de sermos capazes de autoconsciência, não nos permite concluir que a Consciência Universal seja ela também autoconsciente, que tenha ela também metacognição, que haja um Deus [pessoal]. Kastrup acredita que a metacognição humana é resultado de 4 mil milhões de anos de evolução, e que o cosmos não passou por semelhante processo evolutivo. Supor que haja um “Deus cósmico” é supor um Deus sádico que tortura bilhões de seres e pessoas para fazê-las evoluir.”
A Consciência Universal torna-se autoconsciente conhece-se a si mesma através dos seres autoconscientes. Deus só pode ser um aspecto do pensamento humano e o mal é o conjunto de todas as aberrações.
Do vídeo do Youtube intitulado “Bernardo Kastrup: Navigating AI & its significance” tirei as seguintes palavras de Bernardo Kastrup:
“Temos controlo sobre para onde a Inteligência Artificial (IA) está a ir? A resposta psicologicamente madura é não. Não, não temos controlo. […] É ingénuo pensar que podemos ter controlo. […] A IA tem uma vida impessoal própria, como qualquer complexo no inconsciente colectivo. O nazismo era um complexo impessoal no inconsciente colectivo dos povos germânicos. É ingénuo pensar que foi uma invenção de Hitler ou de Franco ou de qualquer ditador da época. Eles surfaram nesta onda inconscientemente e, portanto, nem sequer conseguiram policiar o que esta onda lhes estava a fazer. Foram varridos pela onda. Eles nem sequer estavam a surfar nela. Estavam apenas a rolar com a onda. Com a IA passa-se a mesma coisa. […] O melhor que podemos fazer é tentar permitir que aconteça da forma mais consciente possível, para não nos apagarmos no processo. Não sabemos se isso nos levará a um maravilhoso e admirável mundo novo, ou a uma distopia, ou à aniquilação da civilização (não do planeta, porque não podemos aniquilar o planeta). Portanto, destas três opções, utopia, distopia ou aniquilação, não faço ideia de qual acontecerá. O que sei é que vou lançar os dados. É inevitável. Vai acontecer. Por isso, a minha própria escolha foi estar mesmo no meio disto, porque, talvez arrogantemente, penso que sou um pouco mais consciente do que se passa à minha volta. Assim, prefiro ser aquele que lança os dados e ter mais influência sobre isso, do que ficar sentado na plateia e esperar que aconteça. […] Outro aspecto é: aconteça o que acontecer, estamos agora mesmo no meio daquele que é o período mais emocionante da história da vida nesta rocha. […] O que estamos a construir é uma ferramenta. A IA é a ferramenta mais poderosa alguma vez criada, mas é apenas uma ferramenta. Não é uma entidade. Não é um ser. É uma ferramenta como qualquer outra ferramenta, só que é muito mais poderosa. Portanto, sim, estamos a viver momentos muito emocionantes. […] É uma ferramenta muito poderosa e muito perigosa, mas é uma ferramenta. […] Estamos em palco agora, quer queiramos quer não, quer saibamos ou não, porque acabámos de criar a ferramenta mais poderosa da história deste Universo, tanto quanto sabemos, e estamos prestes a usá-la ao vivo no palco. É por isso que é emocionante.”
No entanto, a IA só terá importância se conseguir reduzir o sofrimento da Humanidade e evitar a sua extinção.

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